Gratidão é a palavra do ano. A palavra de abertura e fechamento de ciclo.
Um ano produtivo, revelador, didático e justo.
Estou aqui, agradecendo à todos vocês que colaboraram para esse 2012 cheio de aprendizado.
E como quem tem juízo aprende e, quem não tem, sofre, já vou logo dizer bem alto que estou feliz porque eu sou do time que APRENDE!
Viva!
Os erros cometidos não serão repetidos.
Os acertos não serão supervalorizados.
O tempo será apreciado como deve ser: em equilibrío.
E é isso!
A simplicidade rege minha vida agora e a praticidade é meu lema!
Desejo que todos vocês possam aprender com os ciclos que a vida prontamente nos oferece!
2013 já está com dias felizes agendados! Compromissos com a Dança e oportunidades de trabalho surgindo a cada dia...
O espetáculo comemorativo aconteceu! Foi na sexta 23 de Novembro. Foi um sucesso de público, crítica e resultado de um primoroso trabalho em equipe.
Mas o que muita gente nem imagina, é o que acontece ANTES do espetáculo.
COMO SURGIU A 10ª EDIÇÃO?
Nesse texto, um pouco de tudo, para se ter uma idéia doas bastidores do processo criativo.
Bem vindos à minha imaginação...
Depois de 09 anos produzindo e criando, decidi não
economizar nessa 10ª edição. E posso dizer que o sucesso do espetáculo foi
mérito de um trabalho em equipe – de palco e bastidores – e de um público
sensível, receptivo e aberto às nossas impressões.
‘’A arte só toca o que já existe em cada coração.’’ Li isso
uma vez. E acredito muito nisso.
Para criar um espetáculo, muito há de ser feito. Mas o
principal começa em sua mente e em seu coração. Saiba aqui, todos os passos
para que fosse possível conceber a 10ª Mostra, ‘’PÁSSAROS’’.
O PRINCÍPIO – O TEMA ‘’PÁSSAROS’’
Foi a primeira vez que eu tive dificuldade em eleger um
tema. Desde o primeiro evento, em 2004 eu defini que a Dança do Ventre
precisava de um contexto para ser apresentada – e apreciada – pelo grande
público e a maneira que encontrei para fazer algo significativo para todos,
elenco e platéia, foi criando um tema a ser desenrolado no decorrer dos shows.
Usualmente no inicio do ano,Fevereiro, Março no mais tardar
eu já tinha algo definido, mas esse ano demorou para a inspiração chegar.
Porém, quando veio – os sinais demonstrados de que seria um caminho a trilhar –
de imediato vislumbrei a peça toda pronta e foi muito tranqüilo o solitário
processo de concepção do espetáculo.
OS PÁSSAROS COMO INSPIRAÇÃO
Como seria o evento que marcava 10 anos de produção e minha despedida, deixei a modéstia de lado e decidi que o tema seria algo que significasse muito para mim! Lembrei da minha alma de pássaro.... e aí... Dois livros temáticos que conduziram a egrégora a ser
criada:
’Fernão Capelo Gaivota’’ de Richard Bach
‘’A Dama do Falcão’’ de Marion Zimmer Bradley
A idéia coletiva de Pássaro remete à liberdade, ousadia,
coragem, realização. Equilibra momentos de ímpeto com pouso, tranqüilidade,
delicadeza.
Eu quis que as bailarinas transmutassem véus em asas,
expressão em mistério e encantamento, aliados à uma força descomunal estética e
cores, muitas cores.
TRILHA SONORA
O mais difícil desafio é sempre meu processo inicial de
criação. Neste ano contei com a ajuda de uma aluna, Cristiane Gomes, para a
trilha da abertura. Surpreendentemente, uma música Peruana, com flauta pan como
um diferencial melódico, que me foi oferecida como um novo estímulo. A partir
dessa escolha, eu defini a tônus emocional das músicas que viriam a seguir e as
danças.
Eu quis aproveitar que seria meu ultimo evento na direção e
escolhi as musicas ao meu bel prazer – o que nunca fiz! Sempre pensei antes na
platéia, mas dessa vez, pensei: ‘o que eu gostaria de ouvir em um espetáculo?’
e assim foi feito.
Deixei os meus solos, como sempre, para o final. E foram as
escolhas mais prazerosas. Inseri ‘’Bandolins’’ de Oswaldo Montenegro, pensando
especificamente na letra. Inseri o som da coruja, as clássicas do jeito que
gosto de dançar, fortes, começam suaves e crescem lindamente ao final. Queria
muito ter colocado ‘’Who wants to live forever’’ do Queen, mas não consegui
editar de uma maneira que não desrespeitasse a música, então acabei desistindo.
Antes de cada música, inseri canto de pássaros. Foi um árduo
processo de pesquisa, mas consegui um vasto material de sons e cantos de
pássaros, e por 15 momentos, o público pode ouvir um canto diferenciado, que
combinava com a música, a dança e os trajes que viriam a seguir. Meu trabalho
mais detalhado, em todos esses anos. E isso fez toda a diferença!
Eu não deixo que as músicas durem mais de 4 minutos, salvo
solos, que raramente chegam aos 5 ou passam de. Todas as músicas sofreram
alguma alteração, ainda que mínima. O objetivo é fazer com que o evento não
tenha mais do que uma hora e meia de duração. – incluindo narração e troca de
trajes e que a platéia não se canse e nem se incomode com a qualidade dos
assentos.
Como teríamos uma coreografia de Fan Veil, decidi ir contra
a corrente - geralmente usam musicas eletrônicas ou ‘fusões’- eu selecionei uma
clássica e a coreógrafa Corina Bogar foi simplesmente brilhante em coreografar a
clássica com os fan veils. O resultado foi impecável, foi possível explorar
muitos desenhos e movimentos e, ao meu ver, bem mais possibilidades foram
criadas, do que se utilizássemos a eletrônica.
O TRAJE – PÁSSAROS QUE VESTEM UM FIGURINO
O primeiro item a ser pensado foi a linha norteadora de
cores e texturas. Mas, ao pesquisar diferentes espécies de pássaros, percebi
que – diferente dos outros espetáculos – eu não teria uma paleta de cores pré-definidas.
Decidi deixar as cores livres, assim como a maioria dos pássaros – são raros os
de apenas um tom.
Eu defini que Abertura e Encerramento seriam cores livres-
muitas cores! E sem a preocupação de ter véus combinando com tons e trajes. A
mistura descompromissada criou uma paleta pessoal e vívida, um elemento
surpresa que deixou um visual arrebatador, logo na primeira dança.
Fan veil seria traje cor branco – para dar o devido foco aos
véus.
Tango de Roxane com a intensidade do vermelho e preto.
Dança Moderna – devido ao perfil das alunas, escolhi a
textura de ‘oncinha’ como tema, e depois da pesquisa descobri que o tecido
lembrava o pássaro curió, missão cumprida.
Percussão – deveria ter cores quentes
Balady – na verdade um encontro entre amigas, teria que ser
uma roupa que nos deixasse a vontade, com informalidade e nada que de imediato
fosse chamativo ou ressaltasse a beleza do grupo. Galabyas foram escolhidas,
diretamente do Egito via Atelier Yasmin Hassanein
Duo – deveria ser leve, como a música e os movimentos, cores
claras, sonhadoras.
Meus solos- iriam remeter a pássaros noturnos. Coruja – e
suas muitas variedades- foi a meta. Vesti Atelier Adriana Almeida (traje preto) e Atelier Yasmin Hassanein (traje com nuances de marrom e dourado).
A instrução geral foi a de que TODOS OS TRAJES deveriam ter
alguma pena. Algo que não fosse caricato e nem direto. Usamos a criatividade em
acessórios de cabelo, brincos, colares, penas em bojos e cintos.
Os enfeites de cabelo para a abertura e o encerramento foram
magistralmente feitos por Joyce Lobo, após conversarmos e eu destrinchar todas
as minhas idéias acerca de como seria uma mulher pássaro. Joyce entendeu. E o
público também. E cada aluna tornou-se um lindo pássaro na noite do evento.
A ILUMINAÇÃO COMO ELO COM A EMOÇÃO DO PÚBLICO
O fato de se trabalhar com um bom técnico e equipe de luz,
faz toda a diferença. Julio Gama realizou o trabalho após um simples telefonema
em que eu pedi luz ‘’corretiva’’, azul, branco e amarelo. ‘’Segue a música e
você manda, confio em você.’’
Como Julio já conhecia o meu estilo, foi muito
tranqüilo o processo de iluminação. Até nos momentos em que ele usou um led
parecido com o efeito de um strobbo – que eu abomino! – ele conseguiu dar um
efeito tão interessante, que me arrependi de nunca ter usado nos anos
anteriores.
Ter o branco sempre de fundo e tema, auxiliou a destacar e criar cores.
O vermelho, que sempre pede cautela, foi utilizado perfeitamente em momentos
estratégicos. E a luz comandou a escala de emoções da platéia, numa junção
perfeita entre música, traje e sensação.
MAQUIAGEM- PÁSSAROS QUE TÊM UMA FACE FEMININA E MARCANTE
Pela primeira vez decidi contratar um dia de beauté. Escolhi
um make e junto a maquiadora Alessandra Camargo definimos os produtos, tons,
intensidade e objetivos do make. Como minha cidade é assustadoramente quente,
unindo aos holofotes, ansiedade e transpiração, o make deveria durar e não
derreter em cena! Abolimos a base e fomos muito felizes com todos os recursos
que foram de primer a glitter e postiços de sonho. Comprei dois tipos de batom
nude, strass para encantar o olhar e todo o elenco foi maquiado exatamente da
mesma maneira. O resultado foi incrível!
LINHA EXPRESSIVA A SER ADOTADA
A orientação que passei ao grupo foi a de que não seríamos
‘’gente’’ em cena. E sim, pássaros. Um olhar fugidio ou fixo. Um mistério e um
furor. Um ‘quê’ de poder, de ser alado e, ao mesmo tempo, um ser etéreo e
lindo.
Ao ver as centenas de fotos – vocês podem conferir algumas
delas nos perfis sociais listados abaixo – fico orgulhosa e satisfeita em saber
que o grupo conseguiu.
AS NARRAÇÕES – TEXTOS E FRASES SOBRE OS PÁSSAROS
Ao invés de falar sobre cada dança, eu decidi falar sobre o
tema, os Pássaros. Mais um extensivo processo de pesquisa acerca de diversos
autores, nacionais e internacionais e colaborações de amigos.
Foi difícil escolher apenas 15 frases, descobri que os
pássaros são inspiração para muitos, muitos escritores.
A grande surpresa foi receber a contribuição da bailarina
que estudo, respeito e admiro, Jade El Jabel, que indicou uma frase de sua
própria autoria e eu a utilizei na dança do Tango de Roxane.
COREOGRAFIAS – TRANSFORMANDO HISTÓRIAS EM MOVIMENTOS
As histórias eram contadas pela música, pela frase escolhida
e pensando a todo instante nos movimentos dos Pássaros. Pesquisei muitas
imagens de Pássaros no Google, pássaros voando, comendo, brigando, amando,
pousando, em repouso ou vôo, diversas possibilidades que me inspiraram nas
poses finais e em algumas marcações de cena ou molduras de braços nas minhas
danças e nas danças de abertura e encerramento.
Contei com a ajuda ímpar de Corina Bogar, minha aluna e
professora do meu estúdio, que seguiu minhas orientações, colocou sua marca
pessoal e fez as coreografias mais belas do evento. Uma parceira incrível de
trabalho e de equipe.
Também convidei solistas e bailarinas para duo e
participações. Todos criaram seus movimentos inspirados pela tema e convictos
de suas intenções. O resultado foi o de um evento homogêneo em qualidade e zelo
pela arte, expressão, elegância e impacto.
Foram 15 coreografias. Dessas, 05 foram coreografadas por mim. 06 por Corina Bogar.Um duo por Helen Bernardes e Franciele Pacheco. Solos de Marina Walder Galiano, Harah Nahuz e meus dois solos, mais improviso do que coreografias de fato, confesso.
A conta não está errada, é que eu gosto de utilizar o elenco completo na abertura e por isso dividi a criação da coreografia inicial com Corina.
No facebook vocês podem conferir as fotos das coreografias, bem como as frases narradas antes de cada número.
Gênesis Capitulo 1, versículo 20:
“... e voem aves sobre a terra, debaixo do
firmamento dos céus... e, no quinto dia, Deus criou... os Pássaros’’
*elenco completo: coreografia de Luciana Arruda e Corina Bogar - abertura
O que posso dizer é que pela primeira vez – e olha, depois
de 10 anos! – antes mesmo de ver o DVD eu sinto em meu coração que foi o meu
melhor espetáculo. O compromisso que o grupo assumiu, a responsabilidade que o
grupo de alunas e convidados abraçaram, o objetivo em se fazer uma edição de
fato comemorativa, já estava explícito a cada entrada e saída de cena, nos
cuidados que todas tiveram com figurinos e acessórios. E, a despeito de ser a
minha despedida da direção, tudo correu absolutamente tranqüilo, organizado e
profissional. Estou orgulhosa das alunas, do grupo todo e em saber que plantei
sementes em solo fértil.
Ano que vem, 2013, teremos a 11ª Mostra, sob nova direção,
com o frescor do novo. E tenho certeza de que será de qualidade!
Produzi meus frutos, realizei ações em prol a arte, nunca
cobrei entrada e jamais ganhei um centavo com os 10 anos de evento, mas sei que
combati o bom combate e deixei sucessoras maravilhosas.
Agora é celebrar e colher os frutos!
Dez anos de espetáculos com recorde de publico, temas de
revistas, TV e mídias diversas, livro publicado, produções e shows, viagens ao
exterior e por muitos lugares do Brasil, posso dizer que, aos 10 anos como
professora e produtora de dança, cumpri minha missão.
Agradeço a todos que colaboraram. Agradeço a todos que não
colaboraram – e assim me fizeram mais forte, mais desafiadora e capaz.
Deus confiou muito em mim para me colocar onde estou agora.
E a Ele, e somente a Ele devo respeito, satisfação e obrigação. Ele sempre
soube o que ia em meu coração. E por isso me deu tanto! OBRIGADA! Reconhece-se
a boa árvore pelos seus frutos.
Em 10 anos nunca cancelei um evento, sempre tivemos casa
cheia e a equipe de trabalho e elenco persiste, até hoje unida e colaboradora.
Isso é ouro em minha vida!
Me despeço da organização do evento, mas não dos palcos.
E a dança sempre será presente em minha vida, de alguma
maneira.
Tenho a honra e alegria em dizer que pude planejar e
escolher o meu momento de ‘’aposentar’’ e o legado que deixo e as pessoas que me
seguram a mão, falam por mim.
Nos encontramos pelo caminho!
*A surpresa da noite! Um vídeo com homenagens incríveis para mim! *-* Começando com depoimentos de Aziza Mor e Jorge Sabongi...ahhhh!