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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Dança x Relacionamento


"Eu queria fazer Dança do Ventre, mas meu marido não deixa."

"Eu não posso ir ao ensaio no fim de semana, porque meu namorado diz que a gente tem que ficar junto, tenho que me dedicar, já que durante a semana a gente se vê tão pouco."

" Eu até queria dançar na apresentação, mas meu namorado diz que não pega bem eu subir lá no palco com essa roupa."

Esses são apenas alguns exemplos de frases que já ouvi como professora de Dança do Ventre.
No início, eu chamava a aluna em particular e começava a falar sobre diversos temas, como independência feminina; machismo; a necessidade da mulher ter seu momento, sua vida particular; o caráter artístico da dança; ciúmes; terapia e um sem fim de explicações.
Confesso que, também no início, eu criava uma antipatia imediata com os namorados/maridos que proíbiam as 'amadas' de fazerem a aula ou participar de apresentações.

Com o tempo, eu fui me cansando de falar, explicar, argumentar.
E eu via aquela aluna que antes era vívida e feliz, se apagando aos poucos. Via o namorado que jogava seu futebolzinho todo sábado à tarde ou tomava um chopp com amigos à noite, mas proibía a namorada de fazer as aulas. Via uma ou outra aluna tentando me convencer que precisava faltar no ensaio - que duraria duas horas - porque precisava 'passar o fim de semana juntinho com o namorado'. Às vezes eu ainda tentava, dizia: 'Mas são somente duas horas!'

Até o dia em que li o conto ' Pele de Foca' , no livro 'Mulheres que Correm com os Lobos' de Clarissa Pinkola Éstes.


E percebi que, como dizia o poeta (me digam qual poeta, que me esqueci)

"Deus ama os pássaros, e criou para eles árvores.
O homem também ama os pássaros, mas criou para eles, gaiolas."

Percebi que entre amar e aprisionar há uma grande diferença, e que o verdadeiro amor, deixa-nos livre. Não resseca e enruga a pele, não nos entristece, não nos tira o viço.

Hoje, quando ouço de alguma aluna as mesmas frases, eu fico em silêncio.
Eu penso: "Tadinha, ele roubou sua pele de foca." Às vezes eu falo e digo apenas: "A dança te faz feliz? Porque não se permite ser feliz? O futebol dele o faz feliz, você o proibiria?"
E deixo a aluna no vácuo, pensando, sei lá, nem volto a tocar no assunto.
Muitas voltam depois. Algumas não. Outras, me encontram pela rua e me dão um sorriso triste.
Não adianta forçar, argumentar, recomendar livros e filmes.

Percebi que o amor, assim como os diversos tipos de relacionamento, diz respeito a maturidade emocional de cada um.
E não adianta querer apressar o tempo ou falar sobre, porque cada um sabe de si e, o que não sabe, o tempo vai ensinar.
Ah, o tempo.
Infalível.
Para o bem e para o mal.

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*Nota: o conto no link é uma versão, o original, do livro da Clarissa é bem mais amplo, com uma análise fantástica ao final. Recomendo, para quem ainda não leu.