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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Dança Inclusiva - O que é isso?


(Desde 12 de Julho estou divulgando o evento que acontecerá na BAHIA em SETEMBRO. Esse texto foi escrito por um dos colaboradores do evento, Edu O.)

"Os modos de pensar a realidade de hoje são integradores e apresentam um fluxo contínuo
de processos e dinâmicas de campos interpenetrantes de informações que estão relacionados
a avanços em estudos científicos, filosóficos, tecnológicos, econômicos, sociais e políticos.

Esse modo de pensar e ver as coisas do mundo é parte de um processo co-evolutivo
que modifica o corpo, seus modos de comunicação, criando redes de conexões nesses diversos
campos de ação.

No fazer artístico, na arte contemporânea, e especificamente na dança,
esse diálogo entre arte e ciências no campo das diversas mediações tecnológicas
e comunicacionais, nos faz entendê-la como um fenômeno complexo, apresentado como
singularidades do corpo fora da perspectiva dualista.

Ações artísticas como intervenções urbanas, residências artísticas temporárias entre grupos de dança, reuniões como um coletivo para pensar/estudar dança e contemporaneidade, as exposição dessas ações na comunidade, tudo isso aponta as novas emergências que a arte/artista/corpo vem encontrando para dialogar com o mundo de hoje, e o corpo do artista com deficiência é parte desse contexto.

Com esse foco, no período de 08 a 12 de Setembro de 2010,
no Espaço Xisto Bahia, o Grupo de Pesquisa Poética da Diferença (PPGDANCA), coordenado pela Professora Dra Fátima Daltro, propõe realizar, em parceira com o Grupo X de Improvisação em Dança, e Grupo de Pesquisa TRAMADAN (Escola de Letras, e Escola de Dança/UFBA), o evento - 1º Encontro de Dança Inclusva. O Que é Isso?,- a fim de refletir sobre a participação efetiva das pessoas com deficiência
no processo de inclusão social tão difundida nos últimos tempos, sobretudo no campo artístico da dança.

As discussões girarão em torno de acessibilidade, profissionalização e inserção
no mercado de trabalho de artistas/dançarinos com deficiência que não tiveram acesso
a informação e formação em dança seja nos ambientes acadêmicos e espaços formais
de ensino de dança.

A proposta é discutir sobre a criação, elaboração e exposição da dança
do(no) corpo do dançarino com deficiência, refletindo sobre as relações estreitas entre corpo,
ambiente e comunicação. Situar esse modo de ser e de agir no campo da pesquisa artística
e ou acadêmica em dança, especificamente no corpo do dançarino com deficiência, é objeto
desse Encontro.

Entendemos ser essa uma proposta relativamente nova, que tem despertado
o interesse em diversos setores da sociedade, o que vem flexibilizando algumas fronteiras.

Mas, embora essas fronteiras se encontrem esgarçadas, ainda é evidente a presença
de resistências que têm como origem o preconceito, a falta de informação e da vivência
com a diversidade. Romper essas barreiras é importante para socializar as informações
e permitir que as teorias se aproximem e possam revelar a realidade emergente.


Assim, esse Encontro reunirá reflexões em dança contemporânea, seus modos
de configurações do e no corpo do dançarino com deficiência em torno da acessibilidade.
A constatação de que existem muitos grupos e projetos que trabalham dança com pessoas
com deficiência, mas pouco investem na sua profissionalização e raramente atuam buscam
formar artistas com capacidades criativas e independência, motivou essa proposta.

A experiência com a atividade de extensão Poéticas da Diferença (2004/2009), atualmente
projeto de pesquisa vinculado ao PPGDANÇA/Escola de Dança/UFBA, com o Grupo X
de Improvisação em Dança, colaboradores, estudantes de graduação e pós-graduação
em dança, e participantes do projeto Oficinas de Dança Para Pessoas com Deficiências,
seus Cuidadores e Comunidade, projeto hora vinculado ao programa, ACC/UFBA(2009/2010),
fez perceber a necessidade de abrir discussões sobre o corpo com deficiência,
para compartilhar as experiências e os avanços no que se refere à informação, formação
e profissionalização artística das pessoas com deficiência.


O Encontro pretende reunir artistas com e sem deficiência, pesquisadores em dança, profissionais na área de comunicação, educação, psicologia e produção para promover um debate interdisciplinar.


Em paralelo teremos mostra artísticas, oficinas, mini-cursos e debates interativos abertos ao público como estratégia para franqueamento das reflexões e difusão do conhecimento nesse campo de ação. Consideramos de suma importância que a discussão parta dos artistas
com deficiência e que cada um relate suas experiências e expectativas.


A pergunta "A dança é da deficiência ou do deficiente ?" estará mediando as reflexões para analisar, no contexto contemporâneo, que estratégias de sobrevivência são engendradas por grupos e ou dançarinos com deficiência, para acesso ao mercado de trabalho e ao campo artístico.


Nesse sentido, chamaremos a atenção para as obras artísticas criadas por/com essas pessoas e para o fato de que na arte, e especificamente na dança, os discursos que emergem dessas obras, muitas vezes, falam do corpo vítima/coitadinho, idéias que estimulam a crença da ineficiência
e na incapacidade de auto-gerência.


Partindo das relações que a arte contemporânea propõe, no caso a dança, e entre ela e outras áreas de conhecimento, vislumbramos a possibilidade de uma nova projeção para o espaço urbano e para as cidades globais, gerando outras dinâmicas de interação e interpenetração acerca de questões nucleares, como é o caso da relação dança e deficiência, para a compreensão do momento presente e a construção do futuro, via arranjos criativos que o campo artístico é capaz de produzir. Assim, em acordo com a linha temática na qual se insere, esta proposta vem na tentativa de esclarecer equívocos sócio-culturais.



Percebe-se que relacionar dança e deficiência ainda parece incompreensível ao interlocutor que vê essa relação a partir da bagagem conceitual e cultural recortada pelo senso comum.


Determinações sócio-histórico-culturais do universo da dança, tais como as tendências do corpo ideal, virtuoso e de alto rendimento, são mantidas e promovem uma fixação de circuitos e sistemas fechados de comunicação, uma redoma protetora edificada sobre as possibilidades de aprofundamento teórico e técnico da questão.

A convicção de que essas pessoas não possuem padrões apropriados para dançar sustenta
um apartheid que interdita a possibilidade de sua dança ser encarada como uma outra dança.
Além das fronteiras da dança, a situação é mais aparente quando se verifica que esse público
normalmente não ocupa cargos mais significativos.



O que se vê com freqüência é a oferta e a ocupação de tarefas ligadas ao subemprego (faxina, empacotador), sem perspectiva de crescimento profissional e remuneradas por baixo salário. Uma oferta/ocupação imposta, já que não há possibilidade do candidato fazer suas próprias escolhas e ou verbalizar o que gostaria de ser/fazer no mundo.


Estas visões não condizem com o entendimento norteador dessa proposta, o conceito de Corpomídia (Katz & Greiner, 2005) aqui utilizado para discutir que a dança, se construída no corpo com deficiência, ou no corpo dito normal, corresponde às experiências vivenciadas, intrinsecamente relacionadas às interferências e obstáculos do viver cotidiano, dos encontros e diálogos na cidade.


Aqui se entende que dança acontece por acordos e ajustes entre um corpo (uma coleção de informações específicas) e as informações do ambiente.


Outro ponto é o equívoco do termo inclusão, pois quando se afirma uma inclusão se pressupõe e se reafirma a exclusão.


Ela se dá a partir da benevolência e generosidade alheia. Considerar estas noções no campo do discurso poético permitirá trazer à tona a complexidade que se estabelece também no corpo do dançarino com deficiência e o aproveitamento de suas potencialidades.


Dessa forma, acreditamos que esse projeto poderá romper com o pensamento comum que cerca a pessoa com deficiência como ineficiente e incapaz de se autogerir, e, em tempo, se estará
ampliando as discussões nesse campo.


Escrito por: Edu O.
(Drt: 2249 - Bacharel em Artes Plásticas -Especialista em Arteterapia)
Produtor, Dançarino e Coreógrafo Grupo X


Isso realmente importa!
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